quinta-feira, 27 de julho de 2017

CUSTOS LOGÍSTICOS OU CUSTOS CONTÁBEIS?

Hoje em dia, cada vez mais observamos a necessidade de uma boa gestão nos custos das empresas, no entanto, muito se confunde quando profissionais da área da logística conversam com profissionais da área contábil/fiscal, pois, cada área tem sua terminologia sobre custos.

Segundo o ILOS, que é uma empresa referência em nosso país sobre logística e supply chain, atualmente os custos logísticos no Brasil equivalem a mais de 10% do PIB, com forte influência da atividade de transportes. Esses gastos representam cerca de 10% do faturamento das empresas brasileiras e são impactados pela eficiência na gestão das empresas e pelas ações governamentais que afetam a movimentação das cargas e as trocas comerciais.

FIGURA 1: COMPARATIVO ENTRE BRASIL E ESTADOS UNIDOS DA PORCENTAGEM DOS CUSTOS LOGÍSTICOS EM RELAÇÃO AO PIB[1]


 Os custos logísticos são os custos de planejar, implementar e controlar todo o inventário de entrada (inbound), em processo e de saída (outbound), desde o ponto de origem até o ponto de consumo. Dessa forma podemos considerar custos logísticos como aqueles em que a empresa incorre ao longo do fluxo de materiais e bens, dos fornecedores à fabricação (Logística de Abastecimento), nos processos de produção (Logística de Planta) e na entrega ao cliente, incluindo o serviço de pós-venda (Logística de Distribuição), buscando a minimização dos custos envolvidos e garantindo a melhoria dos níveis de serviço aos clientes.

Abaixo um quadro de classificação dos custos logísticos com a importância da sua informação

QUADRO 1: CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS LOGÍSTICOS QUANTO À FINALIDADE DA INFORMAÇÃO[2]

Finalidade da Informação
Classificação dos Custos Logísticos
Quanto ao relacionamento com o objeto
Diretos e Indiretos
Quanto ao comportamento diante do volume de atividade
Variáveis e Fixos
Quanto ao relacionamento com o processo de gestão
Controláveis e Não Controláveis
Custos de Oportunidade
Custos Relevantes
Custos Irrecuperáveis
Custos Incrementais ou Diferenciais
Custos Ocultos (Hidden Costs)
Custo-Padrão
Custo-Meta
Custo Kaizen
Custo do Ciclo de Vida

 Custos logísticos são custos entendidos por profissionais da área de logística de forma sucinta e simplificada como sendo os custos assim subdivididos:

1.      Custos de armazenagem e movimentação: são custos envolvidos com a estocagem de materiais e/ou produtos prontos ou semi-acabados;
2.      Custos de transporte: são os custos envolvendo o transporte dos materiais e/ou produtos do armazém local (fornecedor) para o armazém destino (cliente);
3.      Custos de embalagens: são os custos envolvendo as embalagens ou dispositivos de movimentação (pallets, racks, tambores, etc.);
4.      Custos de manutenção de inventário: são custos com os controles dos estoques, ou seja, ativos tangíveis adquiridos ou produzidos;
5.      Custos de tecnologia da informação (TI): são custos associados aos elementos da informática, sejam eles softwares (sistemas em si) ou hardwares (computadores, coletores de dados, separados automáticos, transelevadores, etc.);
6.      Custos tributários: são custos ligados aos tributos incidentes nas operações mercantis das empresas.
7.      Outros Custos Logísticos: Custos decorrentes de lotes (setup), custos decorrentes de nível de serviços, custos associados aos processos logísticos e custos da administração logística.

O Custo Logístico Total (CLT) pode ser apurado da seguinte maneira, a partir da somatória dos elementos de Custos Logísticos individuais:

CLT   =   CAM   +   CTRA   +   CE   +   CMI   +   CTI   +   CTRI   +   CDL   +   CDNS   +   CAD

Sendo que:

CAM = Custos de Armazenagem e Movimentação de Materiais
CTRA = Custos de Transporte (incluindo todos os modais ou operações intermodais)
CE = Custos de embalagens (utilizadas no sistema logístico)
CMI = Custos de Manutenção de Inventários (matérias-primas, produtos em processo e produtos acabados)
CTI = Custos de Tecnologia da Informação
CDL = Custos Decorrentes de Lotes
CTRI = Custos Tributários (tributos não recuperáveis)
CDNS = Custos Decorrentes do Nível de Serviço
CAD = Custos da Administração Logística

A abrangência de custos para a logística é bastante significativa e grande, todavia, os custos logísticos visa adequar às informações contábil-gerenciais às necessidades dos gestores na tomada de decisões logísticas.

Já os custos contábeis são considerados os custos, ou seja, os gastos incorridos indispensáveis à obtenção do bem ou serviço gerador da renda. Segundo Veiga (2016)[3] O custo é representado pelo valor ou somatório de valores que constituirão o valor gasto na obtenção da mercadoria, produto ou serviço a ser ofertado.

O ponto inicial da exposição sobre custos está na terminologia. Infelizmente, encontramos em todas as áreas, principalmente nas sociais (e econômicas em particular) uma profusão de nomes para um único conceito e também conceitos diferentes para uma única palavra.

GASTOS - Sacrifício que a entidade arca para obtenção de um bem ou serviço, representado por entrega ou promessa de entrega de ativos. O gasto se concretiza quando os serviços ou bens adquiridos são prestados ou passam a ser de propriedade da empresa.

Como se pode verificar, gastos são ocorrências de grande abrangência e generalização.
Exemplos:

- Gasto com mão de obra (salários e encargos sociais) = aquisição de serviços de mão de obra;
- Gasto com aquisição de mercadorias para revenda;
- Gasto com aquisição de matérias-primas para industrialização;
- Gasto com energia elétrica = aquisição de serviços de fornecimento de energia;
- Gasto com aluguel de edifícios;

INVESTIMENTOS - Gasto com bem ou serviço ativado em função de sua vida útil ou de benefícios atribuíveis a períodos futuros.
Exemplos:

- Aquisição de móveis e utensílios;
- Aquisição de imóveis;
- Despesas pré-operacionais;
- Aquisição de marcas e patentes;
- Aquisição de matéria-prima;
- Aquisição de material de escritório.

CUSTO - Gasto relativo a bem ou serviço utilizado na produção de outros bens e serviços: são todos os gastos relativos à atividade de produção.
Exemplos:

- Salários do pessoal da produção (MOD);
- Matéria-prima utilizada no processo produtivo;
- Combustíveis e lubrificantes usados nas máquinas da fábrica;
- Alugueis e seguros do prédio da fábrica;
- Depreciação dos equipamentos da fábrica;
- Gastos com manutenção das máquinas da fábrica.

DESPESA - Gastos com bens e serviços não utilizados nas atividades produtivas e consumidos com a finalidade de obtenção de receitas.
Exemplos:

- Salários e encargos sociais do pessoal de vendas;
- Salários e encargos sociais do pessoal administrativo;
- Energia elétrica consumida na sede administrativa;
- Gasto com combustíveis e refeições do pessoal de vendas;
- Conta telefônica da administração e de vendas;
- Alugueis e seguros da sede administrativa.

DESEMBOLSO - Saídas de caixa para atender a aquisição de um bem ou serviço. Pode ocorrer antes, durante ou após a entrada da utilidade comprada, portanto defasada ou não do gasto.

PERDA - É um gasto não intencional decorrente de fatores externos fortuitos ou da atividade produtiva normal da empresa. No 1º caso, são considerados da mesma natureza que as Despesas e são jogadas diretamente contra o resultado do período.
Exemplos:

- Incêndio;
- Obsoletismo de estoques;
- Período de greve;
- Enchente;
- Furto/roubo.

No 2º caso, onde se enquadram, por exemplo, as perdas normais de matérias-primas na produção industrial, integram o custo de produção.
Exemplo:

Uma indústria de estamparia que aproveita apenas 80% da chapa de aço e considera 20% como perda técnica. Da mesma forma, o camiseiro que considera o preço do pano total comprado, como custo, não se importando com os retalhos. Em alguns casos admite-se considerar dias parados por motivo de greve como “ociosidade” e incluí-los nos gastos gerais de fabricação para rateio na formação do custo de todos os produtos.

DIFERENÇA ENTRE CUSTOS E DESPESAS

Em termos práticos, nem sempre é fácil distinguir Custos e Despesas. Pode-se, entretanto, propor uma regra simples do ponto de vista didático: todos os gastos realizados com o produto até que esteja pronto, são Custos; a partir daí, são Despesas. Assim, por exemplo, gastos com embalagens são Custos se realizados no âmbito do processo produtivo (o produto é vendido embalado); são Despesas, se realizados após a produção (o produto pode ser vendido com ou sem embalagem).

Todos os Custos que estão incorporados nos produtos acabados que são fabricados pela empresa industrial são reconhecidos como Despesas no momento em que os produtos são vendidos. A matéria-prima industrial que, no momento de sua compra, representava um Investimento, passa a ser considerada Custo no momento de sua utilização na produção e torna-se Despesa quando o produto fabricado é vendido. Entretanto, a matéria-prima incorporada aos produtos acabados em estoque, pelo fato destes serem ativados, volta a ser Investimento.

Os encargos financeiros incorridos pela empresa, mesmo aqueles decorrentes da aquisição de insumos para a produção, são sempre considerados Despesas.

CUSTO PRIMÁRIO - É a soma da matéria-prima mais a mão de obra direta.

CUSTO DE PRODUÇÃO - É o custo do que foi produzido no período.

CUSTO DE TRANSFORMAÇÃO - Representa o esforço da empresa para transformar o material, adquirido do fornecedor, em produto acabado. É a soma da mão de obra direta mais os gastos gerais de fabricação (GGF) ou custos indiretos de fabricação (CIF).

CUSTO DOS PRODUTOS FABRICADOS - Representa a soma dos custos dos produtos fabricados até o momento do encerramento do exercício, ou seja, é o custo da produção do período mais o custo da produção dos períodos anteriores ainda em estoque.

CUSTO PADRÃO - É um custo determinado da forma mais cientifica possível pela engenharia de produção da empresa, dentro de condições ideais de qualidade dos materiais, de eficiência da mão de obra, com o mínimo de desperdício de todos os insumos envolvidos.

CUSTO PADRÃO CORRENTE - Situa-se entre o ideal e o estimado. Ao contrário deste último, para fixar o corrente, a empresa deve proceder a estudos para uma avaliação da eficiência da produção. Por outro lado, ao contrário do Ideal, leva em consideração as deficiências que reconhecidamente existem, mas que podem ser sanadas pela empresa, pelo menos a curtos e médios prazos. Este tipo de custo-padrão pode ser considerado o mais adequado para fins de controle.

CUSTO PADRÃO ESTIMADO - É aquele determinado simplesmente através de uma projeção, para o futuro, de uma média dos custos observados no passado, sem qualquer preocupação de se avaliar se ocorreram ineficiências na produção.

CUSTO DOS PRODUTOS VENDIDOS - É o custo dos produtos entregues aos clientes no período, ou seja, o custo dos produtos acabados que saíram do depósito. Representa a parcela de custo confrontada com a receita visando a apuração do resultado.

FIGURA 2: PRA QUEM COMPRA CONCEITO CLARO, CUSTO É IGUAL A PREÇO! E PRA QUEM PRODUZ?[4]

Podemos observar a figura acima que ao anunciar o preço de um carro o propagandista discorre que o carro custa R$ 50.000,00 e não o preço do carro é R$ 50.000,00, portanto, pra quem compra de fato custo pode ser o mesmo que o preço, porém, para quem produz, custo é uma coisa e preço é outra.

FORMAÇÃO DE PREÇOS - tem por objetivo encontrar o valor suficiente para cobrir todos os custos e despesas envolvidos, e poder direcionar o lucro desejado[5].

Contabilmente é necessário distinguir o que é custo do que é despesa, pois os custos para a contabilidade incorporam o produto, mercadoria ou serviço, enquanto que as despesas estão ligadas as ações de ofertar o produto, mercadoria ou serviço. Podemos entender melhor essa ligação através da análise da figura a seguir.

FIGURA 3: CUSTO x DEPESA[6]


Identificamos então que num primeiro momento temos os gastos que são direcionados como investimentos (no caso de matérias-primas adquiriras) e, na medida em que essas são consumidas e incorporadas aos produtos ou serviços, atribuímos o nome de custos, bem como, esses elementos são observados na demonstração contábil chamado de Balanço Patrimonial, já os gastos associados em ofertar esses produtos ou serviços aos seus possíveis e potenciais clientes, chamamos de despesas.

FIGURA 4: EFEITO DOS CUSTOS E DESPESAS NO RESULTADO[7]


As demonstrações contábeis conhecidas como Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do Exercício são excelentes demonstrações para observarmos os custos e despesas associados às operações mercantis e atividades operacionais das empresas, portanto, essas demonstrações são de suma importância e pertinência na análise dos custos para tomada de decisão.

FIGURA 5: CUSTO INTEGRAL OU PLENO[8]


 Na figura acima identificamos a formação dos custos:

a)      Custo primário;
b)      Custos de transformação;
c)      Custo contábil; e
d)      Custo integral

Dessa forma concluímos que o custo integral é composto de todos os gastos para produzir ou adquirir um determinado bem e somado aos gastos associados para ofertar esse bem ao seu cliente final.
  
Exemplo:

Alguns dados contábeis e financeiros das Fábricas de Sandálias Aladas Ltda. Estão exibidos a seguir. Com base nos números apresentados estime para o volume total produzido no período:
  
Conta
 $
Materiais requisitados: diretos
   8.200,00
Depreciação do parque industrial
   1.700,00
Aluguel da fábrica
   5.200,00
Aluguel de escritórios administrativos
   7.400,00
Materiais requisitados: indiretos
      950,00
Depreciação de computadores da diretoria
      720,00
Mão-de-obra direta
   9.400,00
Seguro da área industrial
   2.600,00

a.       O custo primário;

Resposta: Custo Primário = MD + MOD = R$ 8.200,00 + R$ 9.400,00 = R$ 17.600,00

b.      O custo de transformação;

Resposta: Custo de Transformação = MOD + CIF = R$ 9.400,00 + R$ 10.450,00 = R$ 19.850,00

c.       O custo fabril;

Resposta: O Custo Fabril é o mesmo que dizer Custo Total que é = MD + Custo de Transformação = R$ 8.200,00 + R$ 19.850,00 = R$ 28.050,00

d.      O gasto total ou custo integral.

Resposta: O Gasto Total ou Custo Integral é o mesmo que a soma de todos os Custos e todas as Despesas = Custos + Despesas = Custo Total + Despesas = R$ 28.050,00 + R$ 8.120,00 = R$ 36.170,00.

Descrição do subgrupo e conta
Valor ($)
Subtotal ($)
MD


Materiais requisitados: diretos
 R$   8.200,00
 R$     8.200,00
MOD


Mão de obra direta
 R$   9.400,00
 R$     9.400,00
CIF


Depreciação do parque industrial
 R$   1.700,00

Aluguel da fábrica
 R$   5.200,00

Materiais requisitados: indiretos
 R$      950,00

Seguro da área industrial
 R$   2.600,00
 R$   10.450,00
Despesas


Aluguel de escritórios administrativos
 R$   7.400,00

Depreciação de computadores da diretoria
 R$      720,00
 R$     8.120,00

Portanto sejam custos logísticos ou custos contábeis, percebemos nesse artigo que é de fundamental importância para uma boa gestão nas empresas, um cuidado e uma atenção toda especial aos custos, preços e finanças.



[1] Disponível em Acesso em 18 Jun. 2017.
[2] FARIA, Ana Cristina de. Gestão de custos logísticos / Ana Cristina de Faria, Maria de Fatima Gameiro da Costa. – 1. ed. – 6. reimpr. – São Paulo: Atlas, 2010.
[3] VEIGA, Windsor Espencer. Contabilidade de custos: gestão em serviços, comércio e indústria / Windsor Espencer Veiga, Fernando de Almeida Santos. – 1. ed. São Paulo: Atlas, 2016.
[4] BRUNI, Adriano Leal. Gestão de custos e formação de preços: com aplicações na calculadora HP 12C e Excel / Adriano Leal Bruni, Rubens Famá. – 5. ed. – São Paulo: Atlas, 2008. – (Série Finanças na Prática)
[5] VEIGA, Windsor Espencer. Contabilidade de custos: gestão em serviços, comércio e indústria / Windsor Espencer Veiga, Fernando de Almeida Santos. – 1. ed. São Paulo: Atlas, 2016.
[6] BRUNI, Adriano Leal. Gestão de custos e formação de preços: com aplicações na calculadora HP 12C e Excel / Adriano Leal Bruni, Rubens Famá. – 5. ed. – São Paulo: Atlas, 2008. – (Série Finanças na Prática)
[7] BRUNI, Adriano Leal. Gestão de custos e formação de preços: com aplicações na calculadora HP 12C e Excel / Adriano Leal Bruni, Rubens Famá. – 5. ed. – São Paulo: Atlas, 2008. – (Série Finanças na Prática)
[8] BRUNI, Adriano Leal. Gestão de custos e formação de preços: com aplicações na calculadora HP 12C e Excel / Adriano Leal Bruni, Rubens Famá. – 5. ed. – São Paulo: Atlas, 2008. – (Série Finanças na Prática)